sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A memória e as coisas ausentes

























(Telas de Tamara de Lempicka)



"A MEMÓRIA DAS COISAS AUSENTES

Quem poderá facilmente explicar, se esta recordação se produz por meio de imagens ou não? Pronuncio o nome, por exemplo, de pedra ou de sol, quando tais objetos me não estão presentes aos sentidos. É claro que as suas imagens estão-me presentes na memória. Evoco a dor corporal se nada me dói, não a posso ter presente. Contudo, se a sua imagem me não estivesse presente na memória, eu não sabia o que dizia, e, ao raciocinar, não a distinguiria do prazer. Profiro o nome de saúde corporal, quando estou bom de saúde. Aqui já tenho presente o próprio objeto. Porém, se a sua imagem não residisse na minha memória, de modo nenhum poderia recordar a significação que tem o som desta palavra.
Os doentes, ao ouvirem o nome saúde, não saberiam de que se tratava, se a força da memória lhes não conservasse a própria imagem, embora a realidade esteja longe do corpo.
Pronuncio os nomes dos números por que contamos. Ficam-me presentes na memória, não as suas imagens, mas os próprios números. Evoco a imagem do sol e logo se me apresenta na memória. Neste caso, eu não recordo a imagem duma imagem, mas a própria imagem. É ela que se me apresenta quando a relembro. Nomeio a palavra memória e reconheço o que nomeio. Onde o reconheço senão na própria memória? Mas então está ela presente a si mesma, pela sua imagem, e não por si própria?”.

Santo Agostinho (Confissões)


Um comentário:

Anônimo disse...

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