sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Comentando "Do Começo ao Fim" de Aluízio Abranches



EM TIRAS (preguiça de fazer diferente...):

definitivamente não é um desastre mas é fraquinho;

um tema que podia ser trabalhado com mais nuances;

linear e asséptico demais;

meio que todo mundo aceita tacitamente;

sem conflitos reais;

pouco crível;

os atores que fazem os irmãos não estão bem o suficiente nos papéis;

julia lemmertz está ótima;

tem um bom argumento;

retrata com muita naturalidade sim (e isso é legal)...

paradoxalmente "civilizado" em excesso;

não é "assexuado" (como me disseram), mas um sexo claramente forjado, sem desejo, sem graça;

quase não recomendo...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

POIS É


[Uma crônica, coisa que não fazia há anos.
Para ler ao som de “Don’t Dream It’s Over, de Crowded House]


Acordei tarde, bem mais tarde do que esperava e ainda com aquela dorzinha chata na lombar. A luz, como que para irritar, escapava à cortina e me atingia o rosto. Qual era a minha lista de coisas para o dia mesmo? Hum, roupa na lavanderia, ler aquele artigo chato, lavar a louça, me preparar para a aula de amanhã. Era preciso regrar tudo para não deixar que o marasmo, o tédio e as lembranças me assolassem o dia.

Havia acabado um namoro de dois anos e há seis meses não nos víamos. Apenas conversas esporádicas pelo messenger, respostas evasivas, e um afastamento contínuo e doloroso. Precisava me ocupar o tempo todo ou me tornaria, mais do que já era, um imprestável.

Resolvi, então, levantar de uma só vez, espreguiçar-me, fazer um alongamento rápido para ver se a dorzinha me abandonava ao menos por um tempo. Fiz um café e me concedi pôr um pouquinho de pó de amêndoas (sou amplamente adepto das políticas auto-compensatórias, capice?).

Olhei minha gata enquanto o café coava e constatei que ela me propunha claramente uma luta de olhares with laser! Ela, sem piscar, me olhava diretamente aos olhos e eu comecei a mirá-la bem nos globinhos amarelos:

- Ah, é!? É assim, é!? Então vamos ver quem vai ganhar, sua gata safada!

- Miow... - respondeu lânguida e baixando o olhar.

- Nossa, hoje foi fácil, hein!? Sua fracote...

E fiz um carinho na cabecinha que se doava ao toque.

Precisava me pôr em movimento ou viraria um vegetal no resto do dia. Tomei o café olhando pela sacada para mais um dia cinza-paulistano e então reuni uma montanha de roupas sujas que levaria para a lavanderia quatro quadras acima, na minha rua mesmo.

Desci as escadas do prédio ouvindo Lion in a Coma do Animal Collective (great, energética!) e cantarolando a letra, abri a porta, saindo à rua. O dia parecia mais iluminado do que no apartamento (lembrei dos dark glasses, mas não voltaria buscar...) e as pessoas estavam um pouco mais sorridentes do que de costume. Involuntariamente me senti de melhor humor.

Subi a rua, vagaroso e mirador. Vi o tio coreano da venda, que se vestia meio como um boxeador, sério e de olhar bravio – sempre o imagino assistindo à exaustão os filmes do Rocky 1, 2, 3, 4... Funny... - Não o cumprimentei, é claro... Mesmo de bom humor ninguém se cumprimenta nessa cidade...

Dona Marli, cabeleireira - há nome mais perfeito que “Marli”, para uma cabeleireira? Acho perfeito! Exato! Se eu quisesse fazer um permanente só iria nela, que já pelo nome transmite know-how e confiança sem igual! - ajudava uma cliente sua, velhinha, a enfiar a cabeça no secador, sempre sóbria e bem maquiada.

Passei também por um homem mais velho, cabelos brancos, mas jovial, que está sempre sentado na entrada de um edifício, com uma bengala. Usa roupas moderninhas e parece íntegro, confiável, enfim, deu-me vontade de parar e do nada começar a conversar com ele, mas, é claro, não tive tanta coragem e segui para a lavanderia com um sorrisinho alegre de canto de boca.

Em pouco tempo invadiu-me a mente a vontade de que fosse a dona da lavanderia que me atendesse, e não a gerente – que era uma grosseirona de marca maior. Porém, assim que cheguei à porta vi a gerente com seu olhar de peixe-morto e sua cara de má-vontade. Disse-lhe um bom dia e ouvi um grunhido de resposta. Ela que acabava de deixar ao chão um saco de roupas de uma moça que estava no balcão veio até mim e pegou a sacola que lhe estendia.

Olhei para o lado e vi que outra cliente era a vizinha nova, do apartamento 6, logo acima do meu e a cumprimentei. “Bem que me disseram...”, pensei, era verdadeiramente bonita: uns olhos que ardiam, como aquelas pessoas que têm inquietações existenciais, olheiras leves, devia ter lá os seus um metro e setenta, magra, mas não demasiado, talvez 26 ou 27 anos e quando sorria era de um encantamento desconcertante. Venci a timidez e perguntei:

- Você é do 6, não é? – e sorri.
- Sim, sim... Mudei ontem. Você é do...?
- Do 4. E... E então, está gostando da região?
- Ah, sim... Aqui é meio perto de tudo, não é? Metrô, teatros, cinemas e tal. Acho que vou gostar bastante, sim... Mas... Qual é o teu nome mesmo?
- Ah, pois é... Leo, e o seu?
- Lisa. Bom, é Elisabete, mas pode chamar de Lisa, mesmo. – e estendeu a mão.

E nesse ponto a gerente nos interrompeu:

- Olha, moço, eu já pedi pro senhor separar as peças, to vendo aqui que o senhor deixou cueca com camisa, com toalha...
- Ah, pois é... Desculpe, é que eu saí meio com pressa e esqueci de separar.
- Da próxima vez vê se não esquece. Agora eu vou ter que separar aqui...

E então, para meu espanto, começou a tirar as peças de roupa e pô-las sobre o balcão, sob as minhas vistas e as de Lisa, iniciando logo pelas cuecas... Rangi os dentes de imediato e pensei comigo: “Vaca, maldita! Vai fazer isso de propósito para se vingar!” e fiquei completamente constrangido: minha vizinha e um senhor que acabava de chegar observavam minhas cuecas sujas sendo jogadas compulsoriamente bem na minha frente.

- Moça, é preciso fazer isso agora mesmo?
- É preciso sim! Não seria preciso se já viesse separada!

Silenciei roxo de ira, sentindo ganas de lhe espremer o pescoço ali mesmo. Lisa então, visivelmente com pena de mim, perguntou quanto devia pelo serviço ao que a "abençoada" da gerente respondeu dizendo que podia pagar quando retirasse as roupas. A vizinha então se virou rapidamente para mim e disse:

- Legal te conhecer, Leo!

E eu, sorrindo amarelo e ainda meio atordoado e constrangido (a gerente pegava da sacola exatamente a última cueca – branca – que restava), respondi:

- P...Pois é...

E seguiram-se uns dois segundos do mais denso silêncio...

- Tá, a gente se fala. Até mais! – disse-me, acenou e se foi. E eu fiquei pensando comigo mesmo: “Pois é!?” Não havia algo melhor a se dizer que um “pois é”!? Por favor, Leonardo! Virei então para a gerente e com olhos crispados, disparando mísseis orientados bastante concretos, metralhei em bom som:

- Vamos lá, minha filha que eu não tenho o dia todo, não! É pra hoje?! Tô com pressa! Vou reclamar para a dona Sofia dessa sua lerdeza!!!

Toda a minha grosseria contida ao longo de décadas foi regurgitada sobre a “doce” gerente, que me olhou com seus olhos de peixe morto, grunhindo alguma coisa incompreensível e continuando a executar tudo com a sua habitual má vontade. Eu, então, já não a olhava, estava olhando para dentro de mim.

Constatava que definitivamente havia arruinado meu dia.


___________________

P.S. Ilustração (autor desconhecido) retirada do site: http://jornale.com.br/horasonora/?p=1789)

terça-feira, 10 de novembro de 2009


SOBRE A COMUNICAÇÃO E SUA FALTA


Novamente
a mesma cama

Aquela em que meu avô
reviu saudosos compadres mortos
e em que me confidenciou a reunião,
seu affair com a enfermeira
e que morreria três dias depois,
quando, de fato, morreu.

A mesma cama
novamente

Três dias antes de morrer
para a colheita
para o planejamento da vida
da morte, da herança,
para a plantação de mim.

I shall pick the fruits of that youth…
Verdes, maduros, podres, que seja.
Quero todos…

Darei um belo suco
aos porcos que me habitam

[Semente estéril no caminho para o encontro]

Os porcos, o affair, a cama
Os compadres mortos

São meus, os três dias.

E a confissão.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Dos Vínculos e de Como Perder-se (e Achar-se) na Melancolia

Hoje, caminhando sozinho ao entardecer pelo IFCH, assaltou-me a memória de meus amigos recentes (peruanos, colombiana, baianos, etc.) e em como nos tornamos amigos tão rápida e intensamente nas três semanas em que ficamos juntos na Bahia. Nas coisas que fizemos, em nossas microlutas contra formas de opressão xenófoba, machista e homofóbica e em como criamos um vínculo forte, intenso e com um sensação nítida de perenidade.

One of the bests hugs ever!!!

Lembro-me de detalhes: do caminhar pelo Farol da Barra, das risadas, dos chistes, das negociações escusas diárias com taxistas, das gossip generalizadas, de las galletitas, de la dulce Niña Masturbadora (aka Fátima), de la Mujer Thailandesa (aka Giank), y de Penélope Cruz (aka Julie), como no!? Y también de Zeca e Neto, queridíssimos, que nos levaram pra lá e pra cá na bela Salvador...

SSSSSSSeca! Y Julie-Penélope!


E também de tantas outras pessoas muito especiais, como: Marília, Lia, Monique, Djaime-Boy (aka Nilmar), Laura, Germán, Gleydis, Lucimar, Georgia, Olívia, Maíra, Cris, Washington, Carla, Terezinha, Ivonete, enfim... Muita gente... D@s últim@s, alguns(mas) me aproximei mais do que outr@s, mas fiquei com um carinho e uma admiração grande por tod@s.


Pensei também em como eles agora estavam há milhares de quilômetros e que tenderíamos a nos ver bem esparsamente e fiquei triste, pesaroso... Como as pessoas passam por nossas vidas, deixam marcas tão fortes e se vão, talvez para todo o sempre? Enquanto eu estava com eles (e a convivência maior acabou sendo mesmo com Fatita, Giank, Julie e Zeca) me sentia muito bem, feliz, seguro e pleno, porém só percebi a importância dessas conexões e o caráter limitado que elas poderiam ter em seu sentido pleno dali por diante, apenas alguns dias após a partida deles (ou da minha própria partida)... Como o Tempo oferece such a rapture e ri-se de nosso êxtase ao compreender o irônico do que nos será extraído logo adiante... Como a visão da colher de sopa cálida que nos é oferecida para não ser dada...

Aula compulsória de samba e salsa!

O problema é que ao contrário de muita gente, eu não esqueço... Esses vínculos e a presença da ausência dessas pessoas que me apaixonaram de maneira fulminante me marcam por muito, muito tempo... Lembro-me de um amigo que fiz na 2a série e que há alguns anos não tenho mais notícia alguma. Lembro-me e sinto uma saudade doída, gostaria de saber como está, o que anda fazendo da vida, se deixou de ser depressivo-suicida como era na adolescência, se é feliz, se ainda recorda de nossa amizade.

Tomando helados: Mujer Thailandesa (aka Trakina), Penélope Cruz, Diva Gay y Maria Joaquina

Lembro-me de amigos há décadas... Não me esqueço, fazem-me falta doída... Penso vez em quando com uma melancolia áspera... Não esqueço e nada preenche essa ausência... O preço que se paga pelo arrebatamento...


Vez por outra é mais sentida essa presença da falta... Não é constante, necessariamente (thanks, god!)...


E apesar do ônus dessa dedicação amorosa aos amigos, eu prefiro sentir tudo... Seja dor, a felicidade, a saudade, a melancolia, enfim... sem Propofol nas veias... é melhor (d)existir with eyes wide open... Deixar-se tomar pela alegria e a dor de amar e deixar-se amar nas formas mais amplas permitidas pela plasticidade semântica...

Fatita Powerfull Girl con Charutón!

Love hurts, já dizia a música cafona... Mas vale a pena, for sure.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

LENDO HAMLET

I

No cemitério, à direita, cobriu-se o túmulo de pó

e, por trás dele, brotou um rio azul.

Tu me disseste: "Então

vai para o convento

ou casa-te com um idiota..."

Só os príncipes falam sempre assim.

Mas eu me lembro dessas palavras:

deixem que elas flutuem por cem séculos

como um manto de arminho jogado sobre os meus ombros.






II


E como por engano

eu disse: "Tu..."

Iluminou-se a sombra com o sorriso

suave do meu amado.

Esse é o tipo de deslize da língua

que faz com que todo mundo fique te olhando...

Mas eu te amo, como quarenta

meigas irmãs.


Anna Akhmátova

1909

Kiev




domingo, 21 de junho de 2009




DOS ÍMPETOS DE AN(N)AS


Ao esperar
sobre a linha amarela
no metrô

Penso em Anna K.

Quando sozinho,
amargo, na madrugada,
vomitando sílabas
ao som da canção pungente
que já não me toca mais

É Ana C.
quem me povoa

E os ímpetos irrefreáveis
que contenho

Em um paradoxo
coragem - covardia

C. E. Henning





segunda-feira, 1 de junho de 2009

Os Entardeceres, os Bichos e Eu

Hoje à tarde decidi caminhar ao parque, no entardecer, como sempre faço quando na solidão e tédio. Uma pancada de chuva havia afastado os desportistas do belo parque e eu não estava nada motivado propriamente para o exercício: queria caminhar ao léu. Evitar permitir que o profundo fastio me tomasse a ponto de olhar angustiado e longamente um ponto vazio, como vazio, de fato, estava.

Esse parque sempre me assombrou, desde o primeiro momento. É belo, com um amplo lago repleto de patos, pássaros, árvores e recantos plácidos. Tem um quê de ermo e misterioso, perigoso, até. Mas belíssimo. Pouco há, mais sublime, que o céu esvaecendo por entre os galhos, ao se caminhar vagaroso, olhando o sol a definhar e as aves de todas as cores e tamanhos voltando da jornada para abrigar-se da escuridão: um exército de plumas fatigadas.

Quando da primeira vez, após caminhar animado 500 metros diminuí o passo para compreender o que via: havia vários coelhos soltos, de todas as cores, pelos gramados. Diminuí o passo a observá-los, me pareceu algo estranhíssimo. Totalmente inesperado... Aumentei o passo, ainda impressionado, porém ao andar mais alguns minutos, estaquei embasbacado: uma família de capivaras se alimentava candidamente por entre galhos e gramas, completamente destemida, frente aos transeuntes. Cheguei até a temer, "esses bichos não atacam?"; "são grandes roedores, não?". Como era possível que em uma cidade como Campinas, em um parque público ao lado de umas das maiores universidades do país, existissem animais como aqueles, soltos, por entre as pessoas? Não haveria algum tipo de risco recíproco? Embora chocado, havia algo de exótico e delicioso em caminhar junto àqueles animais que me ignoravam solenemente, como se eu mesmo não fosse nada mais que um animal obviamente inofensivo.

Sim, pode tirar, esse é o meu lado fotogênico.

Continuei a caminhar lembrando que as capivaras sempre povoaram meu imaginário infantil. Meu avô contava de suas caçadas, do tamanho dos bichos, das disputas pela vida, das fugas inacreditáveis e dos jantares entre homens, no meio do mato, entre pescarias, tatus, pumas e tudo o mais.

Eu jamais havia encontrado uma capivara sem um fosso e muros bem altos que nos separassem... Pela primeira vez pude perceber que sempre houvera uma espécie de apartheid em relação a coexistência com certos animais. Refiro-me, as esses contextos de zoológicos, todos, na lembrança infante, bizarros, fétidos e desagradáveis. Confesso que não vejo objeções a continuidade do apartheid quanto às onças, os ursos e elefantes...

Mas ali, com uma capivara cruzando meu caminho como alguém que passa, frugal, para pegar algumas pedrinhas de açúcar era algo certamente um tanto insólito...

Porém, com o passar das semanas, fui-me acostumando a rotina com aqueles companheiros de jogging fora do comum. Hoje, ao voltar a caminhar no parque quase deserto, peguei-me a pensar sobre a possibilidade de que outros animais, caçadores carnívoros, pudessem ir ao parque para manjar coelhos, ovos de aves e filhotes de capivaras e continuei a caminhar, dessa vez mais vagaroso e instintivamente mais atento.

Oi, eu sou a Vilma, muito prazer! E vosmecê, é solteiro?

Ao caminhar cerca de 800 metros, sozinho em uma curva de mata densa, pude ver um animal de pequeno porte, há uma distância de 60 metros, que parecia um cachorro de 50cm de altura, correndo em círculos, muito rápido, porém bastante magro, com um rabo peludo, grosso e percebi que não se tratava de nenhum cão... Era um outro animal selvagem, bastante veloz e talvez perigoso. Diminuí o passo. Como era pequeno, tive vergonha de voltar daquele ponto (vergonha d'eu mesmo pois não havia mais ninguém por perto) e pensei, já bastante receoso, que o animal talvez temesse meu porte. Ele logo percebeu minha presença e manteve-se em uma postura entre defesa e prestes ao ataque. Seus olhos brilhavam no escuro das 18 horas como os dos gatos e percebi que ele um tanto abaixado, na expectativa, tentava entender o quão perigoso poderia eu ser, ou (uma vez que não especializado em psicologia de animais selvagens) o quão apetitosa minha canela poderia ser.

Continuei a caminhar. Ele estava agora há cerca de 6 metros e percebi que não se afastava. Ao passar pelo bichano vi que ele começou a me acompanhar lateralmente, mas mantendo a distância. Isso verdadeiramente me assustou, pois percebi que o bicho tinha algum tipo de expectativa de um jantar mais generoso. Bati algumas palmas para assustá-lo como reação instintiva com o susto que tomara e pude ver que de perto ele parecia um pequeno lobo. Logo desistiu de me perseguir e continuou correndo em círculos, muito rápido, ora entrando no mato escuro, ora saindo para o passeio, enquanto eu me afastava, apressado. Nesse momento senti uma vontade enorme de reafirmar os apartheids entre nós e os bichos... Eu aqui e você lá. Fossos, cercas e distâncias!

Foi irônico pensar que geralmente nos assustamos com a violência das cidades, medo de morrer em um assalto, ou acidente de carro ou coisa que o valha e eu estava ali, realmente assustado com o que poderia acontecer com um animal selvagem de 50cm, provavelmente morrendo de fome, que cogitava lanchar a piece of me (acho que Britney não chegou a pensar em uma tiradinha trash dessas). Enfim... foi uma experiência estranha e por incrível que pareça me ajudou a sair de meu persistente estado de espírito melancólico, ao menos por algumas horas, e sentir-me bastante vivo. Quando há algum tipo de exposição a um risco real (ou assim percebido) é bem comum sentir vontade de respirar a plenos pulmões... Suspirar feliz... por... por poder propriamente suspirar...

[Mas confesso que tive vontade de ter um spray de pimenta ou aquela coisa que dá choque para usar contra o bicho, se ele quisesse me atacar... Imagine a cena patética! Um homem de um metro e oitenta atracado com um bichinho de 50cm jogando-lhe spray e dando-lhe choques...].

Risível... Patético...

sexta-feira, 27 de março de 2009


A MASSA DO TEMPO

Nunca soube o que pensar sobre o futuro.

Havia: medos, cores, causos, sinapses, escrituras, espremedores [da Walita], poltronas, parentes e leitores. Até bem pouco tempo não me havia pesado o espírito a massa do tempo.

Ocorre-me, sempre, a inutilidade da conversa, mas ora!

Que fazer?
Angustio-me!
C. E. Henning
P.S.: Escultura "Musa Impassível" de Victor Brecheret.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Corrente" da Entrevista

Li no blog do Mr. Labes (www.falacoes.blogspot.com), daí surgiu o convite para que eu também respondesse as perguntas que se seguem, aliás um exercício delicioso! Me lembrou aqueles cadernos que passávamos de mão em mão em sala de aula, lá pela 7ª série, só que perguntas mais sofisticadas e intelectualizadas do que “de quem você gosta, na sala?” ou “quem você já beijou?”. Lá vai:


1. Livro/autor(a) que marcou sua infância.

"Camilo Mortágua" de Josué Guimarães, tinha eu, uns 11 anos. Lembro que era leitura obrigatória para a graduação de mi madre, porém ela chegava em casa exausta e ainda precisava ler para mim (eu a obrigava...). A coitada acabava cochilando com o livro na cara e eu, impaciente, o pegava e lia sozinho. Foi o primeiro que me mostrou ser completamente irrelevante a quantidade de páginas, afinal, a tendência para as crianças é de que quanto mais fino melhor... Mas há, depois, todos os de Monteiro Lobato, os quais li já meio velhinho, gastando minhas férias no onírico sótão de minha velha casa alemã (e cheirando muito pó - de pirilimpimpim!).

2. Livro/autor(a) que marcou sua adolescência.

“O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë. Toda a adolescência passei sob a influência de Mr. Heathcliff: orgulhoso e vingativo. Mas depois fiquei, ok... A diferença, adulto, é que não deixo transparecer meu feitio... Descobri ser a melhor maneira de conquistar “Catherine” no final (e assim não ficar in love com defuntos). Ah, e também “O Apanhador no Campo de Centeio” de J. D. Salinger, o qual li com a idade de Holden Caulfield... Fiquei perturbadíssimo. Dali que surgiu a certeza que eu era um bicho urbano. Engraçado pensar como a literatura nos influencia em coisas básicas na vida, as resoluções.

3. Autor(a) que mais admira.

Dostoiévsky e Gógol na prosa (não há como escolher apenas um). Ferreira Gullar, Ana Cristina Cesar, Manoel de Barros, Adília Lopes e Gonçalo M. Tavares na poesia.

4. Autor(a) contemporâneo.

Santiago Nazarian -
santiagonazarian.blogspot.com (embora os últimos livros tenham mostrado uma guinada infanto-juvenil que não me interessa absolutamente). Há outros, mas não vou citar.

5. Leu e não gostou.

É difícil... Estou há cinco minutos pensando em algo e não me ocorre nada. Bom... Hum... Seria melhor “Não leu e não gostou”... Bem mais fácil... Olha... Eu leio geralmente se já tenho alguma referência prévia ou então se leio algumas páginas na livraria ou sebo e “aprovo”. Então vou citar o “Grupo de Poetas Livres” daqui de Florianópolis, o qual, quase sem exceções, obriga os passageiros dos ônibus urbanos (onde as “poesias” são afixadas) a ler uma produção medíocre, constrangedora e que produz uma sensação de “vergonha alheia”.

6. Lê e relê.

Os autores que mais admiro (lá em cima).

7. Manias.

Abraçar livros que me vinculam afetivamente (eu realmente abraço... enfim). Fazer figa em momentos tensos. Cheirar as páginas abertas de livros recém-comprados (novos ou velhos). Ler dedicatórias em old books e imaginar a história do doador, do receptor e da trajetória daquelas páginas até minhas mãos. Gosto de fitar paisagens frugais que só serão guardadas na câmara escura da memória. Sou maníaco por clássicos editados até o meio do século XX, tenho um prazer físico quando compro, por exemplo, um Theodore Dreiser de 1938. Chorar copiosa e deliciosamente ao ler os romances de Dostoievsky (ele sabe desarmar como ninguém). Imaginar o autor debruçado sobre o manuscrito, a máquina de escrever ou o PC, escrevendo as linhas que leio, a tomar café, coçar a orelha, fumar um charutão ou perder o olhar no horizonte.


E a lista segue adiante (não pode parar a brincadeira, capice?) recomendada aos “colegas”:

Brunósvky Russinho:
brunomioto.blogspot.com/

Glowko Ferreira:
glaucoferreira.wordpress.com/

Tiago Novo:
www.repolhosdedentro.blogspot.com/

Celina Orange: saudefatal.blogspot.com/