quarta-feira, 29 de julho de 2009

LENDO HAMLET

I

No cemitério, à direita, cobriu-se o túmulo de pó

e, por trás dele, brotou um rio azul.

Tu me disseste: "Então

vai para o convento

ou casa-te com um idiota..."

Só os príncipes falam sempre assim.

Mas eu me lembro dessas palavras:

deixem que elas flutuem por cem séculos

como um manto de arminho jogado sobre os meus ombros.






II


E como por engano

eu disse: "Tu..."

Iluminou-se a sombra com o sorriso

suave do meu amado.

Esse é o tipo de deslize da língua

que faz com que todo mundo fique te olhando...

Mas eu te amo, como quarenta

meigas irmãs.


Anna Akhmátova

1909

Kiev