sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

EL GUINCHO E AS SONORIDADES DISSIDENTES NO CENÁRIO INDIE



Somos uma geração com compulsão downloader (horas mongando na net baixando toneladas de garbage sonoro); com síndrome de last week (o que é fucking cool! hoje, daqui a cinco dias, já é passado). Muita gente do cenário musical, por exemplo, acha que o futuro será baseado nos lançamentos de singles ou EP’s, pois a multidão urge por novidades incessantes e nem tem saco pra ouvir um álbum inteiro frente a tantos gigas baixados a cada semana. O que se faz na leitura dinâmica (“passar rapidamente os olhos sobre um texto pegando os eixos”) fazemos cada dia mais com os sons que baixamos: escutando trechinhos para ver se o som “encaixa”. E se não rola: ou vai para lixeira, ou é gravado em algum DVD ficando no limbo pra não ocupar o HD.

Mas enfim, frente a esse contexto caótico, muita coisa que chega até nós, mesmo na cena independente, soa apenas como variações da mesma coisa (cópia da cópia deslavada) e logo temos apenas uma vaga impressão do som “daquela banda”, que nem escutamos mais (ao menos até lançarem o próximo álbum). Mas mesmo assim – thanks god! - é possível encontrar pérolas in the middle of the shit e da mesmice. Nessa edição inaugural da Hot Hot Sounds! e nas próximas, vou tentar trazer, entre outras coisas, algumas dicas do que defino como “sonoridades dissidentes no cenário indie”, ou seja, aquelas coisas boas, marcantes e (ao menos aparentemente) inovadoras que você pára e pensa: puta, porque eu não escutei isso antes!? E acaba deixando no player por muito mais do que apenas uma semana (o que nos dias de hoje já é uma ótima avaliação).

Ah, em primeiro lugar, não me peçam pra definir o que é “cenário indie”, pois essas definições enchem o saco e vem sempre alguma figura dizendo “não é bem assim...”; portanto, deixemos a coisa subentendida. Em segundo lugar, vamos ao que interessa! Hoje quero falar de uma criatura espanhola cujo som me deixou com o fôlego suspenso (embora tenha lançado seu último álbum – Alegranza! - já há vários mesinhos): El Guincho.




Esse espanhol fodão - aka Pablo Díaz-Reixa - reúne tudo o que é imaginável (e o que não é) pra fazer um álbum, sem dúvida, vibrante: dubstuff, afrobeats e tropicália, num ousado mixer eletrônico. Não é difícil ler em diversas resenhas o adjetivo “étnico” anexado ao seu nome (eu pessoalmente não gosto dessa palavra em termos musicais: tudo o que não é asséptico e anglo-saxão é taxado de “étnico”, mas enfim...). O que importa é que há muito não se ouvia tanto vigor sonoro. Sem dúvida: ouçam! Vocais em língua espanhola que conseguem ser irresistivelmente cool. Viciante! Climânico! Envolvente!


Gatzim, né? Resultado dos séculos de ocupação árabe na península ibérica... Ah, meu pai!


Atenção especial a faixa que abre o álbum, Palmitos Park, assim como Kalise (imagine-se em uma praia paradisíaca, um céu maravilhoso, uma galera inn, completamente fuckable em torno de ti e um sensação de bem estar e excitação quase insustentáveis. Então, é mais ou menos a descrição possível para Kalise), e por fim, Prez Lagarto (coisa meio caribenha, com xilofones e uma puta vontade de se quebrar na pista).

Referências

É impossível não lembrar, ao ouvir esse som, do nova-iorquino – e também “dissidente” e excelente – Vampire Weekend (eles inclusive estão excursionando juntos com El Guincho pela Europa por esses dias). Os caras do Vampire são outros que ainda vamos ler comentados por aqui...

Pontos Altos de El Guincho
Vigor. Sensação de “mein got, o que é isso!?”. Prova que ar fresco e cool fora da língua inglesa é possível.

Pontos Baixos
Alguns vocais e beats repetitivos demais.

Dêem uma Olhada e Ouvida:
http://www.myspace.com/elguincho

Entonces, by now that’s all folks!!!
Hasta luego, chicos y chicas!


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

QUEM VAI ME BIOGRAFAR?
-
Minha gata
é herança non grata
de antigo morador
A odeio!
Não brinca
com minhas baratas
nem as come
Ainda
tem sarna
a desgraçada!

C. E. Henning




Ilustração do artista plástico Bruno Bachmann: o Russinho.

Seu trabalho me inspira.

sábado, 18 de outubro de 2008

DA MOLDURA DO MUNDO

pic by Hermes Bezerra

Mea culpa
o roçar sensível, em minhas barbas, da ampulheta.

Faço sons (um frenesi!) com seu cristal
a toda hora...

E é algo, sim, de ardente e triste
a ânsia por ouvir, contínua
a areia tocar a areia...

Como se ao contrário,
uma vez esquecida (na placidez do grão)
pudesse compreender o impossível.
Ou então, melhor, desertar da compreensão
extinguindo o movimento.

Mas esse rio caudaloso,
essa violência estupenda
na hora de soltar as areias ao ar
[no resurrections]
a varrer tudo o que é cândido ou sórdido
me pasma e cala a palavra.

Ainda que em imenso silêncio, eu sei,

Eu sei.

É bela a moldura do mundo.



C. E. Henning

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

SALTY FANTASTIC




Água quente,
mar de verão ao fim da tarde.

Flutuar, olhar o céu
o forte, pássaros marinhos,
homens e mulheres tasty...

Reflexos de ouro sobre a pele e ar.

Entre o medo de inchar,
após horrendo afogamento,
e o prazer de ser parte
de tudo, fantástica e realmente.

[Quebrar a ordem ditatorial
da razão chata].

So, let’s jump!



C. E. Henning

quinta-feira, 22 de maio de 2008

congestã-cerebral












3.



Não é por me gavar




mas eu não tenho esplendor.




Sou referente pra ferrugem




mais do que referente para fulgor.




Trabalho arduamente para fazer o que é desnecessário.




O que presta não tem confirmação, o que não presta, tem.




Não serei mais um pobre diabo que sofre de nobrezas.




Só as coisas rasteiras me celestam.




Eu tenho cacoete pra vadio.




As violetas me imensam.







MANOEL DE BARROS





segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

PARA AFINAR O CORAÇÃO




"As canções



O coração necessita de afinação como os rádios.


Por vezes, em simultâneo, escutamos duas canções,


e uma perturba a outra, e não é bom para os ouvidos.


Mas qual o botão que afina o coração?


Não é assim tão fácil."




Gonçalo M. Tavares