quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Corrente" da Entrevista

Li no blog do Mr. Labes (www.falacoes.blogspot.com), daí surgiu o convite para que eu também respondesse as perguntas que se seguem, aliás um exercício delicioso! Me lembrou aqueles cadernos que passávamos de mão em mão em sala de aula, lá pela 7ª série, só que perguntas mais sofisticadas e intelectualizadas do que “de quem você gosta, na sala?” ou “quem você já beijou?”. Lá vai:


1. Livro/autor(a) que marcou sua infância.

"Camilo Mortágua" de Josué Guimarães, tinha eu, uns 11 anos. Lembro que era leitura obrigatória para a graduação de mi madre, porém ela chegava em casa exausta e ainda precisava ler para mim (eu a obrigava...). A coitada acabava cochilando com o livro na cara e eu, impaciente, o pegava e lia sozinho. Foi o primeiro que me mostrou ser completamente irrelevante a quantidade de páginas, afinal, a tendência para as crianças é de que quanto mais fino melhor... Mas há, depois, todos os de Monteiro Lobato, os quais li já meio velhinho, gastando minhas férias no onírico sótão de minha velha casa alemã (e cheirando muito pó - de pirilimpimpim!).

2. Livro/autor(a) que marcou sua adolescência.

“O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë. Toda a adolescência passei sob a influência de Mr. Heathcliff: orgulhoso e vingativo. Mas depois fiquei, ok... A diferença, adulto, é que não deixo transparecer meu feitio... Descobri ser a melhor maneira de conquistar “Catherine” no final (e assim não ficar in love com defuntos). Ah, e também “O Apanhador no Campo de Centeio” de J. D. Salinger, o qual li com a idade de Holden Caulfield... Fiquei perturbadíssimo. Dali que surgiu a certeza que eu era um bicho urbano. Engraçado pensar como a literatura nos influencia em coisas básicas na vida, as resoluções.

3. Autor(a) que mais admira.

Dostoiévsky e Gógol na prosa (não há como escolher apenas um). Ferreira Gullar, Ana Cristina Cesar, Manoel de Barros, Adília Lopes e Gonçalo M. Tavares na poesia.

4. Autor(a) contemporâneo.

Santiago Nazarian -
santiagonazarian.blogspot.com (embora os últimos livros tenham mostrado uma guinada infanto-juvenil que não me interessa absolutamente). Há outros, mas não vou citar.

5. Leu e não gostou.

É difícil... Estou há cinco minutos pensando em algo e não me ocorre nada. Bom... Hum... Seria melhor “Não leu e não gostou”... Bem mais fácil... Olha... Eu leio geralmente se já tenho alguma referência prévia ou então se leio algumas páginas na livraria ou sebo e “aprovo”. Então vou citar o “Grupo de Poetas Livres” daqui de Florianópolis, o qual, quase sem exceções, obriga os passageiros dos ônibus urbanos (onde as “poesias” são afixadas) a ler uma produção medíocre, constrangedora e que produz uma sensação de “vergonha alheia”.

6. Lê e relê.

Os autores que mais admiro (lá em cima).

7. Manias.

Abraçar livros que me vinculam afetivamente (eu realmente abraço... enfim). Fazer figa em momentos tensos. Cheirar as páginas abertas de livros recém-comprados (novos ou velhos). Ler dedicatórias em old books e imaginar a história do doador, do receptor e da trajetória daquelas páginas até minhas mãos. Gosto de fitar paisagens frugais que só serão guardadas na câmara escura da memória. Sou maníaco por clássicos editados até o meio do século XX, tenho um prazer físico quando compro, por exemplo, um Theodore Dreiser de 1938. Chorar copiosa e deliciosamente ao ler os romances de Dostoievsky (ele sabe desarmar como ninguém). Imaginar o autor debruçado sobre o manuscrito, a máquina de escrever ou o PC, escrevendo as linhas que leio, a tomar café, coçar a orelha, fumar um charutão ou perder o olhar no horizonte.


E a lista segue adiante (não pode parar a brincadeira, capice?) recomendada aos “colegas”:

Brunósvky Russinho:
brunomioto.blogspot.com/

Glowko Ferreira:
glaucoferreira.wordpress.com/

Tiago Novo:
www.repolhosdedentro.blogspot.com/

Celina Orange: saudefatal.blogspot.com/

Um comentário:

Marcelo Labes disse...

Salinger é duro de mais pra ser ler adolescente. O suficiente, o necessário. Que bom que foi adiante por aqui brincadeira (a sério) que começou por lá. E como também tenho mania de ler o que é bem indicado, logo que terminar essa peste (leio Camus agora) dou um passo adiante em Dostoiévsky. Abraço!